quarta-feira, 13 de maio de 2015

Revista Carta na Escola

A revista Carta na Escola produziu matéria que propõe debate acerca do plágio na atividade acadêmica. Leia a matéria parcialmente liberada na rede, já disponível nas bancas. O blog Anti-Plágio é citado como referência, ao lado do blog http://evitandoplagio.blogspot.com.br/ do professor Marcelo Krokoscz. A matéria assinada por Thaís Paiva indica ainda a leitura do livro Plágio:Palavras escondidas, liberado parcialmente no Google Books. Saiba mais sobre plágio. Leia na íntegra a entrevista concedida para a repórter, em 27 de março de 2015.

Primeiramente, o que caracteriza o plágio dentro do ambiente escolar, levando em consideração que o aluno precisa recorrer à referências, pesquisas e, muitas vezes, acaba parafraseando os conteúdos que encontra?
 Rossana Gaia: O plágio ocorre sempre que o estudante (em qualquer nível de ensino) copia um trabalho (parcial ou integralmente) e indica como sendo da sua autoria, sem indicação expressa do uso das aspas (no caso da citação literal) ou sem a indicação do autor e do ano de edição usado (quando realiza uma citação indireta). A paráfrase não é proibida, muito pelo contrário: refletir a partir de outros autores é a premissa básica da ciência, pois avançamos a partir dos que já pensaram anteriormente sobre os problemas que estudamos. Para que o estudante realize essa atividade é fundamental que tenha orientação do professor sobre os tipos de citação direta e indireta que pode realizar e de que modo essa escrita é realizada. Defendo que esse conhecimento seja difundido com alunos desde as turmas do ensino fundamental e médio, pois naturalizou-se encontrarmos os alunos no curso superior utilizando a estratégia copiar e colar como sinônimo de pesquisa. Ora, isto é plágio. Pesquisa requer reflexão sobre o que se leu.
 Em seu trabalho, a senhora aponta que a escrita criativa, sem cópia, exige um processo de aprendizagem sobre conceitos de fontes. O que seria isso?
 Rossana Gaia: O aprendizado sobre a escrita científica não é algo automático. O conhecimento da língua portuguesa é algo que colabora nesse processo. O uso de distintos verbos dicendi, por exemplo, torna a escrita científica elegante e ágil, além de convocar a fonte de referência que precisa ser indicada. Ao indicar uma leitura realizada, pode-se informar o leitor de distintas formas: Conforme registra; Segundo indica, etc. Além disso o aluno pode convocar os autores lidos com expressões como: De acordo com o autor, entende-se que... Conforme verifica-se na pesquisa deste autor, pode-se concluir que... etc. Fontes ou referências são todas as informações que coletamos ao longo de uma pesquisa. Podem ser físicas (livros, jornais, revistas, DVD, CD, etc.) ou virtuais. O fundamental é que estejam em sites confiáveis (instituições de ensino são referências importantes, além de bases para pesquisadores como Scielo). Leva-se um tempo para entender como fazer esse registro adequadamente, conforme as normas em vigor. No Brasil usamos as indicações previstas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O papel dos professores é fundamental nesse processo. Pode parecer difícil quando o aluno começa a utilizar, mas depois que se aprende, é para a vida inteira.
 Podemos dizer que a disseminação da internet e dos dispositivos digitais contribuiu, de certa forma, para o aumento de casos de plágio na escola? Em outras palavras, a comunicação digital facilita essa má-conduta dos estudantes?
Rossana Gaia: Não sou contra a Internet, pois a grande maioria dos pesquisadores sérios que conheço a utilizam como ferramenta democrática para difundir informações científicas, resultados de pesquisas, etc. Minha pesquisa de mestrado na UFPB foi sobre práticas educomunicativas, quando a Internet ainda estava na sua fase preliminar no Brasil, mas já indicava um grande potencial para o ensino. Quem não faz a citação da fonte, plagia. Isso ocorre desde a época em que usávamos apenas livros e enciclopédias, portanto não é um fenômeno meramente virtual, mas vincula-se a um modo de perceber e respeitar a escrita do outro que me antecede no campo de pesquisa. A internet apenas facilita quem tem uma má conduta, pois ao invés de precisar escrever, simplesmente usa as teclas ctrl+c e ctrl+v. O uso dessas teclas assume uma ação coerente quando eu ensinei ao aluno que o texto copiado, se for integral, deve estar com aspas e, se tiver uma paráfrase, deve indicar o autor lido. É simples e fácil, mas exige um aprendizado prévio e respeito pelo conhecimento universal.
 Quais são algumas estratégias que os professores podem adotar em sala de aula com a finalidade de diminuir o índice de plágios e, consequentemente, aumentar o engajamento, autoria do aluno em seus trabalhos escolares?
Rossana Gaia: Cada professor deve encontrar os meios possíveis no seu local de trabalho para estimular práticas de reflexão interessantes e que estimulem processos criativos de escrita e de leitura. No meu caso específico, elaborei um projeto de pesquisa científica, contei com apoio do CNPq (de 2011 a 2012) e da instituição na qual atuo para elaborar um blog que denominei Anti-Plágio <http://blogantiplagio.blogspot.com.br/>. O nome da primeira etapa deste projeto, de 2009 a 2010, foi "Predadores da Razão" e nele programei atividades diversas como elaborar palestras, aulas e outras atividades nas quais difundi o assunto com meus alunos e com estudantes de outras instituições para as quais era convidada a debater a questão. O blog atualmente é mantido por mim, sem colaboradores, no meu tempo livre. Suas atualizações em geral ocorrem a partir de demandas dos alunos, dúvidas que possuem e que procuro colaborar. Em geral, indico e comento textos ou filmes disponíveis na Internet. Outra estratégia possível para fomentar a criticidade é a criação de Clube de Leitura, pois estimula a curiosidade dos alunos. Além disso, convidar professores que já escreveram livros e que podem compartilhar com os estudantes as etapas de pesquisa e a forma de escrita, pode ser uma ótima forma de compartilhar a relevância dos trabalhos acadêmicos.  Um dos últimos posts que fiz foi de um vídeo realizado em 2014 por uma turma do Ensino Médio sobre o conceito de plágio e suas implicações. Há professores que são muito criativos e os alunos quando estimulados produzem materiais muito interessantes.
 Qual deve ser a posição/atitude do professor ao verificar um caso de plágio?
Rossana Gaia: Considero o professor um profissional do diálogo. Sempre que for detectado um plágio, se já foi ensinado ao aluno o conceito e a forma correta de indicação da leitura realizada, é fundamental que o professor retome as questões e indique expressamente onde está o problema e ensine, novamente (e quantas vezes for necessário) a forma coerente da escrita científica. O professor deve ser paciente, mas firme. O plágio é uma má conduta, é tipificado como crime, pois lesa a autoria e o aluno deve ser informado sobre isso. 
 Qual sua opinião sobre softwares caça-plágio?
Rossana Gaia: Todas as ferramentas que colaboram para acelerar o tempo dos professores na revisão de trabalhos acadêmicos, são bem-vindas. O próprio Google já funciona como uma ferramenta anti-plágio, pois ao digitar parte do texto de alguém, se não for da sua autoria e estiver citado no espaço virtual, certamente a identificação será imediata. 
 Há algo mais que a senhora gostaria de acrescentar sobre o tema?
Rossana Gaia: Não cometer plágio é sinônimo de conhecimento das normas da escrita científica e de respeito à autoria alheia. Quem faz isso desde o Ensino Médio ou aprende bem na graduação, tende a ter uma potencial carreira como pesquisador mais adiante.  O plágio é um interdito na vida acadêmica e o respeito que obtemos dos nossos pares decorre do nosso esforço em contribuir para difusão do conhecimento acumulado e acrescentar dados que sejam resultados das nossas vivências e práticas. É importante que professores doutores circulem entre alunos mais jovens e compartilhem seus saberes científicos. Esse  intercâmbio, quando não envolve arrogância, contribui bastante para democratizar a ciência e torná-la mais acessível.

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